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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por Quem os Sinos Dobram



Stranger now, are his eyes, to this mystery
He hears the silence so loud

(Metallica)

Era uma vez o som. Os sinos e suas sinas.

Começar com charme. Título forte, bem Hemingway, Cliff Burton ou, melhor ainda, Bíblico. Revestir a forma com formosura. Um choque térmico, sinestésico, onde o som se sinta, se ouça pelas linhas da letra, quente e frio. E já que cronos é tempo em solo, cotidiano canto da solidão coletiva, nada melhor do que fazer virver as badaladas graves e agudas que ressoam pelos cantos de São João. Ainda em tempo, tateamos cronicamente,

Retratos:

- procissão passando pela praça - santa sendo celebrada - fogos e artifícios (cães coitados, crias do cão!) - jovens gracejos e hormônios tementes - padres pregando seus pregos nas ruas; e toca o tlen-tom. . .

- pobres putas bêbados boêmios falantes estudantes meninos mendigos músicos e a massa popular canta a lua das noites dos dias na rua da cachaça; e toca o tlen-tom. . .

- igreja janta pão e vinho, profissão de fé, divino discurso seguindo seu curso; e toca o tlen-tom . . .

- beijos marcados pelos passos e compassos dos quinzeemquinzeminutos de toda hora; e toca o tlen-tom . . .

- a horadofim cantada como fúnebre gargalhada, lágrimas secas correndo pelo ar de rosto em rosto, rito em rito, emudecendo junto ao som; e toca o tlen-tom . . .

- acima de tudo: fotos flashs flashs fotos dos fatos fictícios ou não, luz se mesclando ao tom pela lente pelo raio, fotos flashs tics técs da santa técnica tecendo a memória dos mitos dos ritos, na pele; e toca o tlen-tom. . .

- Maria Fumaça e seus piuís - vende-se a vista pra qualquer turista; e toca o tlen-tom . . .

- E o som? Como (d) escrevo? Ou ele já se desenhou nos olhos de quem lê as linhas dos paralelepípedos centenários? e toca o divino tlendom tentlon timtom benblom penblam tamtamtamtam


( . . . . . .)


Talvez esses sinos e seus hinos estejam necessitados de retratos. Talvez a soma dos seus sons não seja só o tal patrimônio imaterial. Talvez, esses sinais soltem ondas muito imensamente maiores maiores que mar, rádio ou sonda. Tsunami sonora vai e volta. Daí a ressaca, o ressoar desse signo, possa ser mais próxima daquela dos olhos, tão pertos do ouvir, não fosse sua aptidão para luz.

Pintar, tirar o mofo dessa parede disforme. Preservar.
Doar sangue ao signo.
Instinto de íris, faro de tato, pele de pelo, ouvido de parede, língua de sapo. São tintas para o quadro da sina dos sinos da cidade. Seja lá quem for, seja lá por quem for. Por quem os sinos dobram, talvez. Talvez, por todos nós.

Assim seja.

Será?

...


O coração, se pudesse pensar, pararia.