Pesquisar este blog

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O universo na palma da alma, ou a incomensurável distância entre eu e o breu

Quando a gente olha pro abismo, o abismo olha pra gente. Quando a gente olha, inutilmente, o nada assomando no escuro do alto, de dentro, ou do quarto sem luz, coisas aparecem, na medida em que perece a luz que mascara, junto de tantas coisas, sentidos e possibilidades ocultas.

...

no auge da Escuridão
assoma esse céu
corvo à espreita
da criação

donde assola essa Solidão
cheia
de cacos
de sol
(Aí, um grão)


na suprema Sombra
cintila a imensidão
onde me deito
a espera do sonho

no revés do chão

...


no antes
da ostra
do homem
do astro


o Instante
o grão
o sêmen
o átomo


o Todo
sedimentando
contrários


o Espaço
o Tempo
os
disfarces

vários

...

o Infinito Polimorfo

Etérea matéria
denso
sólido

o Desastre Cósmico

o Acaso, o Caos
a Gravidade
como uma Saudade

da primeira explosão

onde tudo era Um
e era tanto
que não conteve

sua Solidão

...

desde então imerso em sua Dispersão
o Universo conspira sua impossível união:

expansão, gravitação, rotação, criação

entretanto, só encontra mais vínculos

mais vácuos
mais vãos

...
"...neste frio instante, os astros se fixaram numa configuração tal que os fatos deixaram de ser eles mesmos para representar outras coisas." (J.M. Coetzee - À Espera dos Bárbaros)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

estudos curtos sobre a Chuva ou o começo do fim do Mundo

estudando Borges e Cortázar na Madrugada.
eis que surge a Chuva, o ar umidece, e com ele, palavras.


Escuta

tudo muda
lá fora no Mundo
eu, mudo

...

Chuva

o Céu desaba
a Noite escorre
eu, deságua

...

Chuva II

Vento frio
a Noite chora
eu, Rio

...

Chuva III

o Céu transpira
o correr do Dia
eu, Trilha

...

Chuva IV

recompensa
as violetas do Sol
o Céu condensa

...

Chuva V

Nuvens ao Vento
primeiro, Luz
depois, lamento

...

Chuva VI

Grito irado
um encontro de nuvens
deu errado
...

Parábola do Salto da Cigarra

essa
nem jesus
contava

...

dedico esses cantos molhados pra Simone, amiga querida que celebra hoje sua rodaviva, e que tanto me ensinou das Chuvas de dentro e de fora.
a ouvir o Mundo. a viver o Agora.

domingo, 11 de setembro de 2011

Primeiras cenas acenos e acentos - México

Fiz uma postagem meio longas com poemas, e não sei se por conta da foto que coloquei por último, deu uma desconfigurada nos espaços entre os versos, que eu não vou arrumar agora, fica assim até segunda ordem:

Fiquei esperando esperando esperando um tempo ou um tino pra descrever de forma mais minusciosa o méxico, ou um pouco desse calor que é aqui, seja humano, pimenta ou tequila.

E como sempre, o tempo não vem, quando esperamos, mas nesse meio tempo muita coisa vêm, muita coisa passa, inclusive alguns poemas curtos, que eu andei escrevendo a uns tempos e posto aqui pra não serem perdidos na virtalidade do diànoite:

Tenho visto que os expoentes
da minha geração não são
da minha geração



não



O futuro desses tempos

é levantar da cadeira

e cair no caixão



..

Felinanoite


num dia desses
da infância
sentimental
que nunca passa


num dia cheio
de chuva
de lágrima
de mágua

quase sempre
não acontece
nada
além desse voar

fora da asa
esse perder-se
em sua própria
madrugada

até aí não há
o que valha a pena
ou a tinta
dum poema

mas na paisagem
do quarto mudo
percebo um olhar
quieto, profundo

um gato negro
me pula o colo
me lambe a face
e ronrona

um silêncio pleno
me nasce
e qualquer possibilidade
de palavra

me abandona


...


Tarde de agosto
o espelho não vê
o seu rosto

.


Tarde demais, moço

o vento não seca
o seu desgosto
.


Sessão da tarde

sair do ar parece ser

a única vontade


.


um grito louco

vaiavozvoandonovento

fica o assopro

.

Trevas da tarde
tudo arde
e passa vontade


.


o branco, o vôo

nonada a verdade

a vida, o esboço

...

já que tenho dedos

faço o que quiser deles

aponto estrelas


enfio no cu
ou escrevo o caminho

entre eles





como se fosse verdade - a esperança


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por Quem os Sinos Dobram



Stranger now, are his eyes, to this mystery
He hears the silence so loud

(Metallica)

Era uma vez o som. Os sinos e suas sinas.

Começar com charme. Título forte, bem Hemingway, Cliff Burton ou, melhor ainda, Bíblico. Revestir a forma com formosura. Um choque térmico, sinestésico, onde o som se sinta, se ouça pelas linhas da letra, quente e frio. E já que cronos é tempo em solo, cotidiano canto da solidão coletiva, nada melhor do que fazer virver as badaladas graves e agudas que ressoam pelos cantos de São João. Ainda em tempo, tateamos cronicamente,

Retratos:

- procissão passando pela praça - santa sendo celebrada - fogos e artifícios (cães coitados, crias do cão!) - jovens gracejos e hormônios tementes - padres pregando seus pregos nas ruas; e toca o tlen-tom. . .

- pobres putas bêbados boêmios falantes estudantes meninos mendigos músicos e a massa popular canta a lua das noites dos dias na rua da cachaça; e toca o tlen-tom. . .

- igreja janta pão e vinho, profissão de fé, divino discurso seguindo seu curso; e toca o tlen-tom . . .

- beijos marcados pelos passos e compassos dos quinzeemquinzeminutos de toda hora; e toca o tlen-tom . . .

- a horadofim cantada como fúnebre gargalhada, lágrimas secas correndo pelo ar de rosto em rosto, rito em rito, emudecendo junto ao som; e toca o tlen-tom . . .

- acima de tudo: fotos flashs flashs fotos dos fatos fictícios ou não, luz se mesclando ao tom pela lente pelo raio, fotos flashs tics técs da santa técnica tecendo a memória dos mitos dos ritos, na pele; e toca o tlen-tom. . .

- Maria Fumaça e seus piuís - vende-se a vista pra qualquer turista; e toca o tlen-tom . . .

- E o som? Como (d) escrevo? Ou ele já se desenhou nos olhos de quem lê as linhas dos paralelepípedos centenários? e toca o divino tlendom tentlon timtom benblom penblam tamtamtamtam


( . . . . . .)


Talvez esses sinos e seus hinos estejam necessitados de retratos. Talvez a soma dos seus sons não seja só o tal patrimônio imaterial. Talvez, esses sinais soltem ondas muito imensamente maiores maiores que mar, rádio ou sonda. Tsunami sonora vai e volta. Daí a ressaca, o ressoar desse signo, possa ser mais próxima daquela dos olhos, tão pertos do ouvir, não fosse sua aptidão para luz.

Pintar, tirar o mofo dessa parede disforme. Preservar.
Doar sangue ao signo.
Instinto de íris, faro de tato, pele de pelo, ouvido de parede, língua de sapo. São tintas para o quadro da sina dos sinos da cidade. Seja lá quem for, seja lá por quem for. Por quem os sinos dobram, talvez. Talvez, por todos nós.

Assim seja.

Será?

...


O coração, se pudesse pensar, pararia.

quinta-feira, 31 de março de 2011

'Mais do que a curiosidade, era o mesmo não entender que os animava.' - Guima

Prefiro escrever com os sentidos cheios. Do ouvido à vista, a pele, a língua. Com as portas da percepção preenchidas, pode a alma ver além da luz, ouvir além da onda e, antes e acima de tudo, sentir o circular ir, do átomo ao mundo (e além, e aquém). Ter contato de dentro pra fora com o âmago, com o big-bang onde reside a gênese necessária à criação, à vida, ao universo, à poesia.


Anseio o sabor e não o saber.

O seio
O sêmem
O sangue

Basta de tinta nessas linhas.


...

paro pra ver a vista
do mundo modernalista
e vejo, ficando lá atrás
a vida.


...

No meu aniversário
Não ganhei muitos presentes
Só ganhei mais passados.


...

bebida, caminho de ida.

sim

essa é nossa sina

...
e nosso sin

são?

não

a realidade só me enterra
dentro do caixão.

...


Entre nada

e tudo
o vão se abre
para o mundo

entre o céu
e o fogo
o mar desliza
para o fundo

entre o vivo
e o morto
o cheio corre
para o oco

entre a casca
e o caroço
o suco escorre
para o poço.

...

Entre um crente e um cético, há uma nuvem de elétrons. Entre o ser e o não ser, há um faminto querer. Entre o escuro e o ver, há raios olhos e o que pode vir a ser. Entre eu e você, há o olhar. Um, a letra. Outro, o Ler.

domingo, 13 de março de 2011

Não sou feliz mas não sou mudo. Hoje canto muito mais.

Frase belchioriana, grudada na Lesma subindo na parede lodosa da vida.
Silenciosamento, canto.

...

de canto em canto
cada humano conta
as gotas de seu pranto

de canto em canto
cada homem esconde
as gotas de seu sangue

de canto em canto
cada ser seca as lágrimas
do seu querer estar vento

e não poder ser nada
além de carne sangue água
onde inventamos a voz o ritmo

a palavra encantada

onde inventamos nós os ritos a palavra
onde invetamos vós o grito a palavra

voando fora da asa


...

Miméticaminhos

Em matéria de vida imito o mineiro
pá e lavra
pés mesclados na água
castelo de pedra erguido na areia

procurar na lama no lodo nos lados
pescar pedra e pó com peneira
pepitas preciosas deamantes
incrustados em cada instante

tirar da corrente
salvar da correnteza
que corre parada
e nunca é a mesma

Talvez na praia nas noites do diàdia
eu encontre um bruto diamante
ou quem sabe, a brutal -

Poesia

...

não há um Outro
que me habita
há Outros
e são Tantos

que me perco em meio
a mantos
a máscaras
e panos

há o olhar
o não lugar
sem olhos ou corpos
e estou lá

há sonhos enterrados
espelhos
desejos
e cacos

não há eu (para perder-se)
há falta
há nós
e os laços

há uma cidade
de muitas ruas
com seus becos

e buracos

...

Bêbado.

Menos de bebida
que de sonho

de olhar e ouvir
e falar e sentir

noiteahnoite o dia
além da luz

No encontro dos olhos
dos corpos do copos

receosos tilintantes
corações cheio de sangue

enquanto vida e
enquanto dor

cheios de algo bombeando o Ir
seja pra onde for

tremendo de coragem
de frio

de amor

...

Um aperto no peito pingando
como tinta em cada ponto final.

.uma gota de tinta
.uma gota de sangue
.uma gota de sal

sempre tão novo
sempre tão igual

O nó na garganta
a degolada
e persistente

esperança...
...

O Vento Levou

.

com o tempo, vemos
que palavras
como o tempo, voam
...

Poesia é ver o fruto além da casca?

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Amostra de Tiradantes

Só pra destilar a ressaca da Mostra, como estou sem arquivos, vai as reflexões do celular.
Como estou aqui, exposto à audição pública, o faquir da dor:

agora que você viu
bem visto
bem vestido

o teatro
os contentes

aprenderá
a atuar?

...

no escuro
algo brilha

o reencontro
a alegria

e quer mentira
mais bonita?

...

Quem tem amigos
tem bebida

quem tem bebida
fica bêbado

e tem amigos

...

sensações insinuantes
sentimentos estéreis

o final é foda
como sempre

o sexo

...

Só tem luz elétrica no fim do túnel

se ele se apaga
nem estrelas
nem fumaça

uma faísca
breu e você


Mais Nada

...

a luz acesa a tela acesa o sol aceso o céu aceso o farol aceso

eu aqui nesse escuro
eu aqui besta na cadeira
mãos vendadas vendo o breu

em volta de mim
em volta do mundo
em volta de tudo

...

Um prato fundo pra toda fome que há no mundo
O coração dividido entre a razão e a esperança

entre a lágrima e o fato
o ínicio do ato em que

me mato lentamente
pela inabilidade

não há boa vontade no acaso
na vidamatéria

por isso criamos tudo
que há de humano

monumentos amor
plantações e colheitas

esse ar que me respira
essa arte que me despe

e fantasia

paixão e patologia

essa busca doentia

eis, mais uma vez

a vida.

...

um pouco só de solidão
para todos os males da massa
e da multidão

olhar pra dentro
mas não muito
pra não queimar

pra não cair de si
pra não cair no só
pra não cair no Não

...

Eu que não queria falar em rima, vi o vulto do vento se escondento junto do murmúrio d'água, e seguindo esses sons, ouvi cores de alvorada.
Eu que não queria falar em flor, vi aquele grito vermelho, aquele sorriso amarelo acenando pelas pétalas, no meio da terra, na beira da estrada.
E eu que não queria falar em amor e amizade, vi que em meio ao pó e à pedra, as folhas se juntam pela raiz comum.
Elas se olham de longe, próximas pelo mesmo verde correndo em sua seiva.
O mesmo vento.
Os mesmo pássaros sob suas águas.


...

Vejo esses filmes e falo pelos dedos (não há mais cotovelos).
Cada vez mais a cada gole. Mais, no meio de tanto menos
Mais menos, a cada porre.
Penso tantos passados, sinto pena por mim e pelo mundo.
Não de mim, mas do desejo.
da carência.
da falta.
Por mais sempre mais.
Penso nessa dor de estômago e acho graça em misturar saudade e cachaça.
Rio desse rio de sangue e mágoa. Em cada veia, em cada lágrima.
Em cada medo, em cada marca.
A dor de se saber um ser de falta. Como tudo que olho e penso, do átomo ao universo.
A lei da necessidade.
A gravidade.

O sozinho, às vezes acompanhadamente sozinho.

E me arrependo, em meio a tudo isso, de não ter trazido mais uma garrafa de vinho.

domingo, 9 de janeiro de 2011

"E que as coisas sigam seu curso, eis a catástrofe."

Um poema de bar. Um mini conto de amor. Um poema de amor, talvez o único até hoje, pra mim.
Falar sobre a sublimação do desejo. Falar sobre a dança do acasalamento. Falar sobre o sumo.
O sumo coletivo da nossa falta.
O néctar e o veneno da nossa solidão:

...

Queria, vez ou outra, falar de amor
Gastar na escrita essa gastrite nervosa
Falar de saudade
de não ter ilusão no concreto da realidade

Olhar o horizonte por cima do muro
e ver a alvorada brilhar como os olhos da amada


Mas não
Não vejo ela
Vejo tela medo mídia novela
Vejo sem ver, cego de mãos e de dedos
não sei descrever meus segredos

Não sinto o que seja
Apenas desejos
e desvejo esses elos com medo

medo...

...

Neblina. Dois possíveis amantes.
A névoa com vozes. Ouvidos apurados. Tudo se confunde.
No chão de nuvens, algo se perde, muito se acha e um pouco se esconde.
No fundo do peito, a fome. No fundo da fome, um nome.
A manhã avança. Um homem com suas lástimas. Uma mulher com seus fantasmas.
Melhor: almas, crianças.
A vida entre eles. Tanta coisa entre eles.
De repente sol beijo muro tchau. A peça acaba. Salva de palmas, entrelaçadas.
Cortinas abertas. Janelas aladas. O horizonte apaga. Resta um fundo verde.
No fundo, verdesperança.
De repente, A manhã:

A falta
a alvorada.

...

O amor é uma questão de tempo.

De semear
De cultivar
De dar flor
De dar fruto
De dar-se
De criar raiz

e voar

E cair
e inchar
e murchar
fenecer
praguejar
e Resistir

Até o tanto
de novo
ser ar
Até não restar nada
além de areia

e esperança

Solitários grãos
na multidão
Entre sementes
e verdes sonhos

e nessa praia
somente o vento
por acaso
vira a ampulheta

O amor é uma questão de tempo.

...


O eco do oco dentro de tudo.

É assim porque precisamos
de estações. Para medir nossas
medidas e desatar nossos 'adeuses'.
Porque somos também trem
- sempre de partida - e de
chegada. (apitando)
(indo) (chegando) (caminhando)

Em frente. E de volta. Sempre.

"Se dissipou, não era poesia..."

Cuidado. E coragem.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Escrever é Dar Nome aos Bois

Nessa vida montanha russa, abrir os olhos contra o vento não é tarefa fácil.
Já não é suportar subir e descer rodar cair e levantar.
Adrenalina Serotonina Cocaína Paixão Patologias.

É viagem de ida, a vida
Cara a Cara com o vento
Cara a Cara com o nada

É o risco. O cisco no olhar.
Sem escolha, apertar o cinto (o sinto), e ir:

...

Modernidade

A vida é líquida
ou
A vida é dura?

eis a questão

...

O Sólido Desmancha no Bar

me afago num corpo
me afogo num copo

pago acendo e apago
esse cigarro fogo fátuo

e enfim me despedaço
em cacos

de vida

...

Paixão

cabeça confusão
coração - descanso dos pés
o chão à nuvem

depois o chão, só
só, o chão
quer queira

quer não.

...


Antes montanha que roleta russa.