Pesquisar este blog

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Céu e Inferno - Cantares

Depois de muito tempo sem dar as letras, entre diversões e depressões, tudo que perece, aparece.

Acabei hoje um artigo super bonito sobre a Hilda Hilst, que me parece, talvez, o mais bonito de poesia sob este solo brasileiro, desde de sempre. É claro que não é, e que é. E como todas as boas almas que contêm multidões, não ligo de me contradizer.

Só um trecho de poema, pra dar água na boca:

X

Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca.
(...)
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome? ISSO...

O amor e sua fome.

...

Pra não ficar sem um desencanto, mando um meu, antigo, que nem gosto tanto, mas que vai sair no livro do concurso de poesias da UFSJ de 2010, sob o pseudônimo de The Marriage of Heaven and Hell :

Ritmo, dissonância

"If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is, infinite."
(William Blake)

uma Poesia – fina
corre e discorre
em minas - mina
de fontes barrocas – cristalinas
segue seu curso-discurso
acompanha o trote de brisas matutinas

não obedece tratado
de-forma
di-verso
de rima
Mas como não sentir essa cadência
essa carência
essa demência
incessante nas velhas cidades?

Lira real:
Realeza natural
beleza miúda de folhas outonais
Que se dão ao v e n t o
Flu tu am
suaves
como anjos
nas catedrais.

Resvala na senzala,
vê de longe: a altivez do casarão
eleva-se ao cume da cidade
da humanidade
e só depois descansa em seu destino:
o Chão – o vão - que se vê entre linhas
para lelepípedos..

Esses Cantos tem a harmonia
dissonante
de cada canto do universo:
o vai-e-vem dos sinos
a mão-no-peito dos hinos
a ingenuidade dos meninos.
E vai, certo em linhas tortas
Renascendo em cada verso.

O poema é a lente: aumenta, inventa, revela, desbrava:
queima.

Abra seus olhos: ouça
o zumbido da vida que se levanta
entre os cadáveres da linguagem e as cinzas
que se espalham pelos poros das realidades.


...

Que este amor não me cegue nem me siga.

(...)

Que este amor só me veja de partida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário