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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Feras fora de Época

Tive um bom tempo, semana passada, pra encher a cuca da nada, nadando no mar e em rios. É bom sair do de sempre, e facilita a fuga do esmo de si. Mas agora, de volta às voltas e voltas paradas em torno de si e do mesmo. Com algumas memórias e poemas a mais, ainda molhadas do doce do mar.


Folhas Amarelas

É preciso guardar vida para o inverno
e conservá-la dentro de si, dentro do só

Para se aquecer do vento do lado de cá
se esquecer do lento veneno corroendo

correndo nas veias dos presentes, passados do pó
Daí escorrer essa seiva pela ponta dos dedos d'alma

pelas linhas inscritas nas trilhas de nossas palmas
entrelaçadas, trêmulas de gelos, credos e medos

Para depois cantar em silêncio nossos coletivos segredos
E aguardar para decantar o encanto de nossos desejos

Assim seja. Será?

...

Do beco para o horizonte

Dizem que não há mais adiante, não adianta
Impera o imperialismo positivismo racionalismo
Empilhando empirismos e palpáveis ismos
A utopia a poesia a fantasia..ia.não vai mais.

O sono acabou. Acordemos. Levantemos das redes
Sociais que nos prendem a essa inação coletiva
Personagens e metáforas ainda dormem em casas
Abandonadas de palavras e frases (ainda) sem asas

Não temos a chave. E como não tenho direito ao urro
Eu uivo, e esmurro e derrubo, mesmo se não. Estuprar
o reino das palavras. Cheirar o pó estanque de suas
estantes e espirrar perversos versos na cara do horizonte

Por isso irmos, de mão em mão, ir, irmãos
Pé ante pé, pra frente do mesmo pra sempre assim
Pela imobilidade que nos resta, empunhar cadeiras
De roda moinhos e fazer café dessa fé em conserva

Nada nesse rio, é preciso.

Viver? É impreciso.
A vidachama. Espera.

Vamos juntos? Ou morreremos com ela?

...

A Pau e Pedra e Água e Falta, continuamos caminhos.

Senão por nós, pelos eus que somos juntos, em nossa desesperada espera de ser e não ser. Sozinhos.






Foto: A Dança da Esperança - Irgo Malavrado - Picinguaba/RJ - Outubro 2010.

domingo, 3 de outubro de 2010

Paralítica Política Parasita - Comício do Fim

O Jardim da Política Brasileira: eis o solo infértil que servirá de base para os rabiscos nessa areia de binômios e píxels e outros grãos mais que significam os contornos luminosos frente à nossa fronte.
Um dia triste, que vejo com resignação, percebendo que o Brasil, de fato, tem a situação sociopolítica que merece.
É engraçado como uma população explorada, carente de terra renda e especialmente instrução técnica e humana, se deixa reger pelas batutas azuis e vermelhas que vemos encabeçando a lista dos eleitos.
Tragicômico.
Tiriricas e Anastasias fazendo piadas de mau gosto, deixando frutos e flores futuras fenecerem antes de surgir.
Pão, circo e propaganda, muita propaganda.
Esse é o incontável segredo escondido sob incontáveis notas ganhadas pelo preço do espetáculo.
Que pagamos rindo, que comemos de volta, pelos olhos e ouvidos.
E vomitamos pela ponta dos dedos. amos, sim, pela crença (ainda) no coletivo.
Pelo produto do pó de pirlipimpim que dá realidade à fantasia discursiva que se ergue ante nosso medo, pessimismo e comodismo (eis o último grande ismo da modernaidade).

Esperança ou desilusão? Viver, talvez.
Olho-no-olho do horizonte, não pra chegar lá, mas para continuar andando (manco, mas ando).
Acreditar nas mentiras verdadeiras, e nos seus sinônimos tantos como utopia ou poesia.

Por falar em falácia:

FRAGMENTOS

1

Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto

no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom s
enso

2

Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez
sinta o mesmo no seu quart
o
Não tenho pressa Para que acordar-te
com o relâmpago
de mais um telegrama

3

O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado

a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano

4

Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo

5

Sei o puldo das palavras a sirene das palavras Não as que se aplaudem do alto dos teatros Mas as que arrancam caixões da treva e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro Às vezes as relegam inauditas inéditas Mas a palavra galopa com a cilha tensa ressoa os séculos e os trens rastejam para lamber as mãos calosas da poesia Sei o pulso das palavras parecem fumaça Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.


Vladimir Maiakóvski

...

REAÇÃO


toda revolução por outras linhas na trilha

de minhas mãos


toda liberdade por um abrigo

que me guarde


todo o sonho por um sono

tranqüilo


todowtodos, por um lado que leve ao fim

dos contrários


(mas o peito, antes do pó, não fica parado)

meu eu – eu meu – nós vários

...

SOLUÇO DO SOL


Tatear miragens

num deserto de imagens


inventar oásis sonoros

beber a areia viva do chão


seco – mas ainda se sente

o soluço do sal


se houver ainda algo de flor

nesse cacto


algo de pétala nessa palavra

- Flor.

...


Fome atrás dos dentes. Faca atrás das frases.

Fezes. Atrás das grades da sociedade.