Um dia triste, que vejo com resignação, percebendo que o Brasil, de fato, tem a situação sociopolítica que merece.
É engraçado como uma população explorada, carente de terra renda e especialmente instrução técnica e humana, se deixa reger pelas batutas azuis e vermelhas que vemos encabeçando a lista dos eleitos.
Tragicômico.
Tiriricas e Anastasias fazendo piadas de mau gosto, deixando frutos e flores futuras fenecerem antes de surgir.
Pão, circo e propaganda, muita propaganda.
Esse é o incontável segredo escondido sob incontáveis notas ganhadas pelo preço do espetáculo.
Que pagamos rindo, que comemos de volta, pelos olhos e ouvidos.
E vomitamos pela ponta dos dedos. amos, sim, pela crença (ainda) no coletivo.
Pelo produto do pó de pirlipimpim que dá realidade à fantasia discursiva que se ergue ante nosso medo, pessimismo e comodismo (eis o último grande ismo da modernaidade).
Esperança ou desilusão? Viver, talvez.
Olho-no-olho do horizonte, não pra chegar lá, mas para continuar andando (manco, mas ando).
Acreditar nas mentiras verdadeiras, e nos seus sinônimos tantos como utopia ou poesia.
Por falar em falácia:
FRAGMENTOS
1
Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
no ar de maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso
2
Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez
sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa Para que acordar-te
com o relâmpago
de mais um telegrama
3
O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano
4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo
5
Sei o puldo das palavras a sirene das palavras Não as que se aplaudem do alto dos teatros Mas as que arrancam caixões da treva e os põem a caminhar quadrúpedes de cedro Às vezes as relegam inauditas inéditas Mas a palavra galopa com a cilha tensa ressoa os séculos e os trens rastejam para lamber as mãos calosas da poesia Sei o pulso das palavras parecem fumaça Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.
Vladimir Maiakóvski
...
REAÇÃO
toda revolução por outras linhas na trilha
de minhas mãos
toda liberdade por um abrigo
que me guarde
todo o sonho por um sono
tranqüilo
todowtodos, por um lado que leve ao fim
dos contrários
(mas o peito, antes do pó, não fica parado)
meu eu – eu meu – nós vários
...SOLUÇO DO SOL
Tatear miragens
num deserto de imagens
inventar oásis sonoros
beber a areia viva do chão
seco – mas ainda se sente
o soluço do sal
se houver ainda algo de flor
nesse cacto
algo de pétala nessa palavra
- Flor.
...
Fome atrás dos dentes. Faca atrás das frases.
Fezes. Atrás das grades da sociedade.
Uau!
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