Pesquisar este blog

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Amostra de Tiradantes

Só pra destilar a ressaca da Mostra, como estou sem arquivos, vai as reflexões do celular.
Como estou aqui, exposto à audição pública, o faquir da dor:

agora que você viu
bem visto
bem vestido

o teatro
os contentes

aprenderá
a atuar?

...

no escuro
algo brilha

o reencontro
a alegria

e quer mentira
mais bonita?

...

Quem tem amigos
tem bebida

quem tem bebida
fica bêbado

e tem amigos

...

sensações insinuantes
sentimentos estéreis

o final é foda
como sempre

o sexo

...

Só tem luz elétrica no fim do túnel

se ele se apaga
nem estrelas
nem fumaça

uma faísca
breu e você


Mais Nada

...

a luz acesa a tela acesa o sol aceso o céu aceso o farol aceso

eu aqui nesse escuro
eu aqui besta na cadeira
mãos vendadas vendo o breu

em volta de mim
em volta do mundo
em volta de tudo

...

Um prato fundo pra toda fome que há no mundo
O coração dividido entre a razão e a esperança

entre a lágrima e o fato
o ínicio do ato em que

me mato lentamente
pela inabilidade

não há boa vontade no acaso
na vidamatéria

por isso criamos tudo
que há de humano

monumentos amor
plantações e colheitas

esse ar que me respira
essa arte que me despe

e fantasia

paixão e patologia

essa busca doentia

eis, mais uma vez

a vida.

...

um pouco só de solidão
para todos os males da massa
e da multidão

olhar pra dentro
mas não muito
pra não queimar

pra não cair de si
pra não cair no só
pra não cair no Não

...

Eu que não queria falar em rima, vi o vulto do vento se escondento junto do murmúrio d'água, e seguindo esses sons, ouvi cores de alvorada.
Eu que não queria falar em flor, vi aquele grito vermelho, aquele sorriso amarelo acenando pelas pétalas, no meio da terra, na beira da estrada.
E eu que não queria falar em amor e amizade, vi que em meio ao pó e à pedra, as folhas se juntam pela raiz comum.
Elas se olham de longe, próximas pelo mesmo verde correndo em sua seiva.
O mesmo vento.
Os mesmo pássaros sob suas águas.


...

Vejo esses filmes e falo pelos dedos (não há mais cotovelos).
Cada vez mais a cada gole. Mais, no meio de tanto menos
Mais menos, a cada porre.
Penso tantos passados, sinto pena por mim e pelo mundo.
Não de mim, mas do desejo.
da carência.
da falta.
Por mais sempre mais.
Penso nessa dor de estômago e acho graça em misturar saudade e cachaça.
Rio desse rio de sangue e mágoa. Em cada veia, em cada lágrima.
Em cada medo, em cada marca.
A dor de se saber um ser de falta. Como tudo que olho e penso, do átomo ao universo.
A lei da necessidade.
A gravidade.

O sozinho, às vezes acompanhadamente sozinho.

E me arrependo, em meio a tudo isso, de não ter trazido mais uma garrafa de vinho.

3 comentários:

  1. hhahahahaha massa cara! e eu tb uso o celular para gravar reflexões, se pensa que vai se lembrar depois, estaremos enganando-nos.

    ResponderExcluir
  2. "agora que você viu
    bem visto
    bem vestido

    o teatro
    os contentes

    aprenderá
    a atuar?"

    Muito bom isso, cara!...

    ResponderExcluir
  3. ler tudo isso me fez voltar no tempo,dias de boemia de alegria, e arrependimento lastimavelmente um sincero arrependimento de não ter mesmo comprado mais uma garrafa de vinho... rsrsrrs

    ResponderExcluir